A MÚSICA COMO TERAPIA

 A Musicoterapia é conhecida pelo uso da música num contexto clínico, educacional e social para prevenção e apoio a problemas de saúde mental, promovendo qualidade de vida e bem-estar. É um trabalho desenvolvido por um profissional qualificado, o musicoterapeuta. Em Santa Maria, a educadora musical e musicoterapeuta Daniele Pendeza tem mestrado em Educação e especializações em Psicopedagogia e Educação na Perspectiva do Ensino Estruturado para Autistas, atua junto de pessoas com deficiência há oito anos, em atendimentos escolares e clínicos, e participo de um projeto de humanização hospitalar no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) intitulado Programa CAACTO desde 2018.

 

Benefícios

A educadora musical Daniele comenta que a Musicoterapia é capaz de evocar e modular emoções, mudar a frequência cardíaca e respiratória, propiciar relaxamento, diminuir a dor, aumentar a concentração e o foco, diminuir a ansiedade e sintomas depressivos, propiciar habilidades de comunicação verbais e não-verbais, auxiliar na recuperação e manutenção da memória, melhorar o sistema imunológico, melhorar o desenvolvimento e recuperação de habilidades motoras, facilitar a socialização e o apego, melhorar o sono e na sucção não-nutritiva de bebês e diminuir o tempo de hospitalização.

Além disso, a música é capaz de mudar certas estruturas do cérebro, melhorando a eficiência de suas conexões, como a amígdala, hipotálamo, ínsula, córtex orbito-frontal e principalmente o corpo caloso, responsável pela comunicação entre os hemisférios.

 

Para que serve e como é o atendimento

De acordo com a Federação Mundial de Musicoterapia (World Federation of Music Therapy- WFMT), a musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. “É válido destacar que a musicoterapia é uma profissão reconhecida e necessita de formação específica, sendo que não se faz Musicoterapia apenas ouvindo playlists relaxantes ou tocando com os amigos, essas ações podem ter efeitos benéficos e são altamente recomendadas para quem tem prazer e interesse em sua realização, mas, para a interação ser considerada Musicoterapia, ela necessita de um profissional habilitado que utilizará técnicas específicas para a promoção de objetivos terapêuticos”.

Daniele explica que o atendimento é personalizado para o indivíduo ou grupo o qual a terapia será realizada. Isso envolve avaliação da saúde geral dos pacientes, identificação de sua identidade sonora (nenhuma música é considerada boa ou ruim dentro desse processo, pois, para que ele ocorra da melhor forma, o gosto e cultura dos indivíduos devem ser considerados e respeitados, evitando-se assim qualquer preconceito estético) e delineamento de objetivos terapêuticos que serão desenvolvidos até o processo de alta. A terapia é desenvolvida através da música e dos seus elementos, envolvendo a utilização de métodos específicos, como recriação, improvisação, composição e audição.

 

Indicações para crianças e adultos

A Musicoterapia pode ser realizada junto de casais grávidos, bebês pré-termo (que nasceram antes das 37 semanas de gestação) ou a termo, na estimulação precoce, adolescentes, adultos e idosos, com as mais diversas doenças, transtornos ou síndromes.

Segundo Daniele, no campo da pesquisa os benefícios encontrados para pessoas com Alzheimer, Parkinson, demência, transtornos do desenvolvimento, Transtorno do Espectro do Autismo, transtornos específicos da fala, Síndrome de Down, depressão, pessoas em tratamento oncológico, paralisia cerebral, bebês pré-termos e pessoas com doenças cardíacas, têm sido os mais promissores. “Para ser paciente de musicoterapia não é necessário saber tocar nenhum instrumento musical, pois não estão envolvidas questões estéticas, e sim de promoção, prevenção e reabilitação da saúde”, diz a profissional.

 

Terapia em animais

Assim como os seres humanos, os animais reagem à música dependendo do estilo. Na Universidade do Colorado, nos EUA, foi feito um estudo sobre o efeito da música nos animais. Os estudos demonstraram que, como há muitos estilos musicais que não geram nenhum efeito nos animais, mas a música clássica os relaxa em grande maneira, chegando a acalmar os quadros de estresse. Conforme afirmaram os cientistas, é bom deixar o rádio ligado em casa quando os donos estão ausentes. O estudo apontou que 53% dos americanos deixam seus animais com música em casa enquanto estão no trabalho.

Outra experiência positiva aconteceu com vacas que produziram mais leite ao ouvirem música relaxante, segundo cientistas britânicos. Os pesquisadores da Universidade de Leicester tocaram vários tipos de música para mil cabeças de gado por 12 horas seguidas, durante nove semanas. As vacas expostas a música clássica e canções lentas produziram 730 mililitros de leite a mais do que as que ouviram músicas mais agitadas. “Música lenta ajuda a produzir mais leite provavelmente porque reduz o estresse”, diz Adrian North, que realizou o estudo junto com seu colega Liam MacKenzie.

 

Breve histórico da Musicoterapia

A música sempre esteve na história da humanidade, e é utilizada com intuito de cura desde as mais antigas civilizações, sendo que no período Paleolítico se tem dados de que a audição musical era ligada a cura mental, física e mudança de comportamento humano. Porém, a musicoterapia como uma profissão teve seu início entre a primeira e a segunda guerra mundial. Nesse período, músicos voluntários tocavam em hospitais, e tanto pacientes quanto equipe médica evidenciaram que aconteciam mudanças positivas no comportamento dos feridos durante as audições, ocorrendo diminuição na dor e melhora no humor.

O primeiro curso profissionalizante universitário de musicoterapia foi criado em 1944 na Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, e estava intimamente conectado aos hospitais e exércitos americanos, que buscavam tratamentos para os veteranos de guerra. Dada a visibilidade dos achados na época, que foram se disseminando pelo mundo, no ano de 1985 foi criada a Federação Internacional de Musicoterapia (WFMT), estabelecida em Gênova, na Itália.

No Brasil o primeiro curso de especialização em musicoterapia surgiu na Faculdade de Artes do Paraná em 1970 e o primeiro curso de graduação em 1972 no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro. Atualmente, as instituições que oferecem o curso de graduação são: Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Conservatório Brasileiro de Música Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e Faculdades EST. Já a especialização pode ser cursada no Conservatório Brasileiro de MúsicaFaculdade de Ciências, Educação, Saúde, Pesquisa e Gestão (CENSUPEG), Instituto Fênix de Ensino e Pesquisa e na Faculdade Regional de Filosofia, Ciências e Letras de Candeias (FAC). Segundo o MEC, os cursos de especialização em musicoterapia habilitam o profissional a realizar a mesma prática que aqueles que fizeram a graduação.

Daniele salienta que, na área da pesquisa, os primeiros trabalhos realizados no Brasil datam do ano de 1975. Esse movimento foi crescendo e se espalhando e associações locais foram sendo criadas. Atualmente, existem 11 associações, organizadas pela UBAM – União Brasileira das Associações de Musicoterapia. “Com o desenvolvimento da tecnologia e o advento das neurociências, na década de 1990, cada dia surgem novos estudos que comprovam o grande efeito que a música tem em nossos cérebros, principalmente quando esse contato se dá através de ambientes estruturados, como ocorre em uma sessão de Musicoterapia, integrando o cérebro de forma holística”.

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